Renato Paiva foi despedido do Fortaleza após apenas 10 jogos (2 meses). É o segundo despedimento dele nesta temporada, depois de ter caído no Botafogo durante o Mundial de Clubes. E estamos tratando de um técnico que teve até vitórias históricas, como frente ao campeão da Europa, o PSG. Do ponto de vista europeu, isto é algo incompreensível – chega a ser cômico e até ‘zoável’.
Em Portugal, estamos habituados a ver treinadores durante anos: Sérgio Conceição no Porto, Jorge Jesus no Benfica ou Rúben Amorim no Sporting. Se olharmos para a Premier League, a comparação fica ainda mais gritante: Mikel Arteta está há 7 anos no Arsenal, mesmo sem títulos relevantes durante grande parte desse período, e com orçamentos gigantescos. No Manchester United, treinadores são mantidos mesmo quando parece que já não há como piorar. E o que dizer de Arsène Wenger ou Sir Alex Ferguson, que praticamente dedicaram as suas carreiras a um só clube?
O paralelismo para o Brasil é astronômico. Vemos a torcida organizada do Palmeiras criticar talvez o melhor treinador da história do clube, Abel Ferreira, quando ele está completamente na luta pelo título e nas quartas de final da Libertadores. Pior ainda, vemos pressões constantes nos CT’s, com jogadores e técnicos sendo cobrados cara a cara pelas organizadas. Na Europa isso até pode acontecer, mas de forma pontual; o que é incomum é ver jogadores e dirigentes a dar justificativas oficiais a torcidas como se fossem superiores hierárquicos. E não me entendam mal: o clube é dos sócios, ou pelo menos assim acredito deveria ser.

O resultado desta cultura? Uma roda-viva em que 16 técnicos já foram demitidos em 2025, alguns com passagens de apenas 3, 4 ou 7 jogos. Na loucura que é o calendários das competições no Brasil, não dá tempo nem para os projetos nascerem.
É verdade: o treinador é a cara do projeto, o responsável máximo, e muitas vezes é justo que caia. Mas a grande questão é que, no Brasil, não se valoriza a estrutura. Procura-se sempre o culpado individual. Quando leio críticas a um time, são quase sempre dirigidas a nomes próprios e não a problemas coletivos. O Fred foi apontado como único culpado da eliminação do Brasil na Copa e a própria comunicação social é quem força essa narrativa. Presumo que seja cultural.
Quando há um projeto pensado e estruturado com planejamento estratégico, como é o caso do Palmeiras, os resultados aparecem. Se dá tempo, e o sucesso é visível. Abel Ferreira é a prova viva disso. Tudo indica que o Cruzeiro vai pelo mesmo caminho. O Flamengo também parece ter uma aposta firme em Filipe Luís, talvez influenciado pelo diretor de futebol europeu (José Boto), daí os resultados começam a aparecer.
Isto não tira responsabilidade ao técnico: a incompetência existe, e muitas vezes é a raiz o problema. Mas penso que, para o bem do futebol brasileiro, será importante mudar a mentalidade: ser mais paciente, confiar no trabalho e na progressão das equipes, deixar os treinadores trabalharem e, acima de tudo, não ser tão duros com a individualidade e sim com o coletivo.
Acredito a 100% que o Brasileirão tem potencial para entrar no top 5 das melhores ligas do mundo e ser um produto globalmente requisitado. Tem estádios cheios, torcidas apaixonadas, e o poder financeiro dos maiores clubes já começa a rivalizar com a segunda linha europeia. Uma das chaves pode ser precisamente esta mudança de mentalidade.
Existem outras possíveis melhorias: gramados naturais, menos “lixo visual” nas transmissões, acabar com palcos a ocuparem arquibancadas em jogos, e reduzir calendários sobrecarregados. Mas isso já são outros assuntos… que talvez volte a explorar nesta rúbrica de opinião.