Foi do conforto da minha casa que nos últimos dias fui lendo as notícias que envolviam o jogo entre o Villarreal e o Barcelona. Desde logo que me pareceu descabido o encontro ser disputado em Miami, mas se os clubes concordavam, quem era eu para discordar?
Como não estou em Espanha talvez me tenha faltado alguns pormenores. Afinal, os clubes não concordavam. Aliás! Nem foram consultados.
Mas esta figura de soberania, quase monárquica, que Javier Tebas, presidente da Liga espanhola, impera, não é nova. Crê ser dono de Espanha, que apenas o que acredita está certo e os clubes… são secundários.
Mas engana-se. Os clubes são o que fazem o futebol espanhol e a Liga, sim, pelo menos a parte de gestão, é que acaba por ser secundária. Para uma Liga espanhola protagonista já bastou os anos de Negreira.
Mas adiante. A Liga espanhola queria o Villarreal-Barcelona em Miami sobre o pressuposto de “expansão global da competição e da marca”. Quer mais receitas, admitiu, em comunicado.
Engraçado é utilizar a Premier League como exemplo de Liga super bem gerida e que vai ampliando o alcance e a receita. Sabe, caro leitor, quantos jogos da Premier League foram jogados fora de Inglaterra ou do País de Gales? Zero!
Mas o pior nem é este ilusionismo de Javier Tebas, é mesmo o facto de que, enquanto figura de rei de Espanha e do futebol espanhol, não consultou os restantes clubes quanto à realização do referido jogo em Miami.
O Real Madrid, obviamente, protestou, e eu concordo com os argumentos. E acreditem, não gosto do Real Madrid – só gostei entre 2009 e 2018 (tudo por ti, Cristiano) – mas o clube tem razão.
Não houve unanimidade nem consulta para que o jogo fosse disputado em campo neutro. Adultera a competição. Isto são argumentos válidos e verídicos.
A Associação Espanhola de Futebolistas disse o memso. “Falta de transparência, diálogo e coerência da La Liga”. É verdade!
Se Javier Tebas quer gerir melhor a Liga espanhola – ou mais receitas – que aprenda que o futebol, como quase tudo na vida, se faz em coordenação, harmonia e com diálogo. Não de forma unilateral, como se fosse dono disto tudo.
Mas o presidente da Liga espanhola não parou por aqui. Na última jornada do campeonato, a nona, ficou acordado entre TODOS os clubes um protesto simbólico. Nos primeiros 15 segundos de jogo, os jogadores permaneceram imóveis.
E qual foi a decisão, obviamente pensada previamente e originada na brilhante cabeça de Javier Tebas, da realização? Não transmitir.
Sim, não transmitir! Mostraram a zona central do relvado ou o exterior dos estádios! Isto só acontece quando há invasões de campo!
Mas Javier Tebas decidiu incorporar uma veia – e os meus amigos espanhóis que me perdoem por recordar esta triste figura – de Francisco Franco [ditador espanhol entre 1939 e 1975] e censurar aquilo que é a liberdade de expressão.
E logo a liberdade de expressão de futebolistas, vá-se lá imaginar. Essa classe operária que é constantemente condicionada no que pode dizer, a quem pode dizer e onde pode dizer.
É uma vergonha. A Liga espanhola está a ir por um caminho de auto-destruição por culpa de um lunático de presidente.
Encorajo, na minha mera e insignificante figura de jornalista português, que haja protestos, haja voz, reivindicação e, acima de tudo, haja liberdade. E não é so sobre futebol.








