A Copa do Mundo de 2026 tem tudo para se tornar muito mais do que um grande evento esportivo: pode transformar‑se num palco de debates sociais, ambientais e políticos!
Assumindo o possível (e praticamente certo) alcance da competição até aos «quatro cantos do mundo», defendo que esta prestigiada competição deve, e pode, assumir esse papel com responsabilidade. Ao mesmo tempo, nem tudo são rosas! Todos sabemos que há riscos nesse tipo de ações e há uma grande diferença entre discursar sobre algo e tomar efetivamente medidas para que algo aconteça.
Em primeiro lugar, o torneio que vai juntar 48 equipes e que vai ocorrer nos três países‑anfitriões (Estados Unidos, Canadá e México) aumenta exponencialmente seu alcance social e simbólico – recorde-se que será o segundo mundial com mais do que um país anfitrião, o que já aconteceu em 2002 com Coreia do Sul e Japão.

Ter a visibilidade destes 3 grandes países, permite lançar à luz sobre temas que muitas vezes ficam relegados: inclusão, direitos humanos, meio ambiente, mobilidade, questões trabalhistas. Por exemplo, a Amnesty International alerta que faltam garantias claras para que sejam assegurados os direitos humanos de trabalhadores, torcedores e grupos vulneráveis nos países anfitriões – inclusive pelo risco de políticas de imigração restritivas que presidentes como Trump vão colocando. Nesse contexto, a Copa pode servir de instrumento de pressão para que governos e organizadores adotem melhores práticas.
Adicionalmente, o impacto ambiental do evento oferece uma plataforma essencial para debates sobre a verdadeira sustentabilidade «por trás das câmeras». Um relatório das Scientists for Global Responsibility estima que o torneio gerará cerca de 9 milhões de toneladas de CO₂, superando os 5,5 milhões registrados no Mundial no Catar e tornando‑se o mais poluente da história da competição.
Isso obriga, e pede, a responsabilidade dos governos e da organização visto que é com a visibilidade que se pode gerar a mudança: se o evento propocionar exposição às contradições entre o espetáculo fornecido e a pegada ecológica do evento, pode fomentar a prática e imposição de políticas mais verdes.

Tendo causas como esta em conta, defendo firmemente que a Copa 2026 deve servir de palco para essas narrativas — e que os organizadores não apenas falem de «legado» ou «responsabilidade» como muitas vezes acontece, mas que realmente incorporem práticas concretas: a proteção dos direitos humanos, existência de transparência financeira, a mitigação de emissões e o envolvimento das comunidades locais.
Claro que há o lado oposto: alguns argumentam que megaeventos esportivos geram deslocamentos de populações, aumento de custos públicos, turismo massivo que beneficia grandes corporações mais do que a sociedade local — e que usar a Copa como palco de «questões sociais» pode acabar sendo mera retórica ou «greenwashing». Além disso, há o risco de que os próprios países‑anfitriões ignorem críticas ou limitem liberdades para evitar constrangimentos num evento global. A crítica da Amnesty International a políticas migratórias e direitos civis ilustra parte dessa preocupação.
Em síntese, acredito que a Copa 2026 oferece uma oportunidade ímpar para tornar visíveis e conectar agendas ambientais, políticas e sociais — mas isso só valerá se houver compromissos reais e fiscalização. Se for apenas espetáculo e discurso, perde‑se a chance de transformar o enorme investimento numa janela de progresso.








