Em Portugal não se fala de outra coisa: José Mourinho voltou. Vinte e cinco anos depois, o maior treinador português regressa ao Benfica e, de repente, parece que o país parou.
A cena foi digna de Hollywood: câmaras a seguir o carro de Mourinho, transmissão ao vivo madrugada dentro à porta da sua casa… tudo por um treinador que, na verdade, já não é o “Special One” de outros tempos. E enquanto isso, um dérbi histórico como Vitória SC x Braga passou completamente ao lado. Isto diz muito sobre como o nosso futebol continua refém da bolha dos três grandes.
O curioso é que Mourinho estava no Fenerbahçe e foi eliminado da Champions… pelo Benfica. Dias depois, assume o comando da mesma equipa. Para apimentar ainda mais, uma semana antes esteve no Estádio do Dragão, homenageado como lenda do FC Porto onde ganhou a Champions e conquistou tudo. O estádio levantou-se para o aplaudir… e, logo depois, vêem-no assinar pelo maior rival. Para os portistas, foi como ver um ídolo rasgar memórias.
No Benfica, a história se repete. Em 2000, Mourinho tinha assumido o clube, mas acabou despedido porque o presidente que apostou nele perdeu as eleições. Agora, em 2025, a história volta a soar a déjà-vu: Rui Costa, pressionado e sem títulos relevantes, voltou a jogar a carta Mourinho como trunfo eleitoral. Contratou-o como treinador-milagreiro, mas o futebol não funciona assim.
O impacto inicial foi típico: vitória 3-0, euforia nas arquibancadas, ambiente de festa e esperança renovada. Mas logo no segundo jogo, o empate frente ao Rio Ave foi um verdadeiro banho de água fria. Em Portugal, deslizes assim custam títulos. E Mourinho sabe disso melhor do que ninguém.
Agora, deixem-me ser claro: o problema do Benfica não é Mourinho. Também não era Bruno Lage, conhecido dos botafoguenses, que até tinha algumas ideias, mas nunca conseguiu segurar a pressão e, sinceramente, nunca teve as qualidades necessárias para treinar um colosso português. O problema é estrutural. E é aí que está o verdadeiro fracasso.
Nos últimos anos, os dirigentes do Benfica têm estado muito aquém da dimensão do clube. A gestão é errática, sem rumo claro. Um clube que investe 30 milhões de euros em Richard Ríos, ex-Palmeiras, sem que ele tenha o perfil que a equipa precisava, que vende talentos como João Neves demasiado cedo e que não consegue criar uma estratégia de comunicação moderna e digna de um gigante europeu… não pode culpar apenas os treinadores.
Enquanto isso, o Sporting vem trabalhando bem a sua imagem, e o Porto, com Villas-Boas na presidência, começou finalmente a se tornar uma referência na forma como comunica e se apresenta ao mundo. E o Benfica? Continua preso a velhas fórmulas que já não funcionam.
Mourinho até pode trazer impacto imediato, mas não há “efeito Mourinho” que dure se quem manda continuar a falhar. Nos próximos jogos, recebe o Gil Vicente, mas logo depois terá três pedreiras: Chelsea, FC Porto e Newcastle. Esses duelos podem muito bem ditar o futuro da presidência do Benfica… e talvez até o do próprio Mourinho.E há aqui uma semelhança histórica que não me sai da cabeça: Artur Jorge, o outro treinador português que venceu a Champions pelo FC Porto, também acabou por trocar o Dragão pela Luz. O resultado? Foi um flop, não ganhou nada e deixou mágoa entre os portistas. A minha previsão é simples: com Mourinho vai acontecer o mesmo. Prefiro guardar a memória do “rockstar” que foi no Porto, no Chelsea e no Inter. O outrora Special One dificilmente terá sucesso neste regresso a Lisboa.








