Cresci achando que devia dar ao meu filho um nome começado por “R”. Há qualquer coisa nessa letra que mexe com os deuses do futebol. A quantidade de mágicos com esse início é absurda – Romário, Rivaldo, Roberto, Rivelino, Robinho… e, claro, o maior de todos esses nomes – Ronaldo.
E é aqui que começa a discussão. Há três Ronaldos fora de série.
O “verdadeiro”, como Mourinho o chamou – Ronaldo Fenômeno.
O Bruxo, o que me fez apaixonar pelo futebol – Ronaldinho Gaúcho.
E o nosso “pai”, como dizemos em Portugal – Cristiano Ronaldo.
A pergunta é inevitável – quem é (foi) o melhor Ronaldo?
Cada um tem o seu argumento, a sua mística, o seu momento. Todos cabem em qualquer top 10 de melhores de todos os tempos. Mas o futebol é emoção, e é aí que cada um nos toca de forma diferente.
Ronaldinho – O Bruxo
Ronaldinho era pura alegria. Jogava com um sorriso que parecia dizer: “relaxa, o espetáculo é meu”.
De manga comprida, cabelo solto e ginga natural, dançava entre os adversários como se o gramado fosse o seu palco.
Fez coisas que nunca mais vi. A sua estética, o carisma e a irreverência o tornaram, com o passar do tempo, quase mítico.
Mas há um “porém” – a sua carreira ao mais alto nível foi curta. Uns 6 ou 8 anos de magia pura, seguidos de uma descida de intensidade.
Talvez por falta de disciplina fora de campo, talvez porque o futebol moderno se tornou demasiado tático e maquinal para tanta liberdade criativa.
Mas uma coisa é certa – ninguém jogou com tanta beleza. Guardiola disse uma vez: “as pessoas não se lembrarão do que ganhamos, mas sim de como jogávamos”. Ronaldinho é isso – a memória da arte.
Ronaldo Fenômeno – O Monstro
Campeão do mundo aos 17 anos. Uma locomotiva com técnica de bailarino. Ronaldo Fenômeno era a mistura impossível entre força bruta e leveza divina. Fez defesas parecerem crianças, e atacantes sonharem ser ele.
Nunca ganhou uma Champions – ironia cruel – mas venceu o respeito eterno de quem o viu. As lesões e os excessos fora de campo o impediram de voar ainda mais alto, mas mesmo assim, foi gigante. Mesmo “sem joelho”, mesmo com uns quilos a mais, ainda partia tudo.
Era futebol em estado puro, antes das máquinas e dos algoritmos.
Cristiano Ronaldo – O Imortal
E depois há o nosso Cristiano.
Curioso – o nome veio de Ronald Reagan, não de um jogador. Ironia do destino – acabou por ser ele o Ronaldo por excelência.
Cristiano é o oposto dos outros dois.
Menos talento natural, talvez, mas um monstro de trabalho, foco e consistência.
Dos três, é o mais completo no sentido moderno da palavra – adaptou-se, reinventou-se e dominou o jogo durante quase duas décadas.  De extremo desequilibrador no United a matador clínico no Real Madrid, construiu uma carreira que parece impossível de repetir.
Dividiu o mundo com Messi, e dessa rivalidade nasceu a era mais brilhante que o futebol já viu.  Durante anos, não havia domingo sem discussão – “Quem é melhor?”
Mas, no fundo, todos sabíamos a sorte que era viver no tempo dos dois.
Cristiano é mais do que um jogador – é um símbolo global.
Provavelmente a pessoa mais conhecida do planeta – da aldeia mais remota do Uzbequistão às ruas de Nova Iorque, todos sabem quem é Ronaldo.
E mesmo quem o critica, respeita-o. Porque a grandeza se impõe.
Então, quem é o melhor Ronaldo?
Para mim, Cristiano vence.
Não por ser o mais talentoso – mas porque foi o mais constante, o mais determinado, o mais duradouro. O homem que fez da excelência um hábito.
Mas, no fim, cada Ronaldo representa uma era e um sentimento.
Ronaldinho é a arte.
O Fenómeno é o instinto.
Cristiano é a perfeição.
Três homens, uma letra, e uma certeza – no futebol, o “R” é a inicial dos deuses.
Posto isto, vou dar ao meu filho um nome com a inicial R…
ou talvez não – depende do que a mãe quiser.








