No verão falou-se muito de Richard Ríos. O médio colombiano brilhou no Palmeiras, até no Mundial de Clubes, e não faltaram clubes interessados. No meio da confusão, saiu o rumor: Benfica e Porto na corrida. O final da novela foi simples: o Benfica pagou 30 milhões por Ríos, o Porto levou Froholt por 20M.
À primeira vista parecia jackpot para os encarnados. Hoje já não é bem assim.
Ríos: talento sim, mas fora de lugar
Richard Ríos não engana: é agressivo, intenso, sabe transportar jogo à bruta, arrancar da defesa para o ataque. Mas não é um 8 que dita ritmos, não é um tecnicista para desmontar defesas fechadas, nem um criador de último passe. É um jogador de transições.
E aqui está o problema: o Benfica não vive de transições. Contra 90% das equipas da Liga, vai ter a bola o tempo todo. Ríos brilha quando há espaço para correr, não quando tem de gerir posse. Resultado? Em Portugal vai parecer perdido. Ironia das ironias: é mais provável que se destaque contra um Real Madrid do que contra um Casa Pia.
Nos primeiros jogos já deu para ver que vinha com tiques de Libertadores: muito ímpeto, pouco timing. Na Europa, se entras a querer fazer tudo, acabas por não fazer nada. Some-se a instabilidade do Benfica, eleições a ferver, Mourinho a entrar em modo bombeiro e a receita está pronta: Ríos na pole position para “flop do ano”.
Froholt: a peça certa no puzzle certo
Do outro lado, o Porto optou por Froholt. Um tanque dinamarquês de 19 anos com intensidade fora do comum. Não é só físico: tem critério, sabe quando soltar, quando carregar, lê bem o jogo. Não deslumbra com técnica, mas impressiona com inteligência. E em poucos jogos já parecia que o meio-campo do Porto era dele.
E atenção: o boom nórdico não é moda. Hjulmand, Gyökeres, Isak, Bardghji, Bobb, Ødegaard, Haaland. A lista fala por si. Froholt tem tudo para seguir esse caminho.
Gestão: a diferença está na estrutura, não no relvado
A comparação entre Ríos e Froholt mostra bem mais do que estilos de jogo. Mostra estratégias. O Porto, com Villas-Boas, sabe para onde vai. O Sporting, com Varandas, vem de alguns dos melhores anos da sua história. O Benfica? Continua a gastar milhões sem perceber contexto.
E depois há o mercado sul-americano. Os brasileiros já não vendem barato. Seguram craques, inflacionam, vendem diretamente para Inglaterra, Espanha, Itália. Resultado: Portugal perde a sua função de ponte. Jogadores que antes passavam por cá para ganhar experiência (Falcao, James, Militão, Luis Díaz, Ramires, Di María, Casemiro, Raphinha…) agora saltam logo para as Big 5. O problema é deles? Não. O problema é nosso, que ficamos de fora.
O contra-exemplo: William Gomes
E é aqui que entra o caso William Gomes. O miúdo brasileiro chegou ao Porto ainda sem o preço inflacionado, ganhou minutos, adaptou-se ao futebol europeu e tem tudo para rebentar em breve. É o exemplo perfeito de como Portugal pode continuar a ser a tal ponte, se souber chegar primeiro.
Porque uma coisa é gastar 30M num jogador já feito, mas fora de contexto. Outra bem diferente é investir cedo, moldar o talento e depois vender por 80M. William Gomes pode ser o próximo dessa lista, a seguir a nomes como Luis Díaz ou Militão.
Moral da história
Ríos é bom jogador, mas não encaixa. Froholt encaixa que nem uma luva.
Um custou 30M, o outro 20M.
Um pode virar dor de cabeça, o outro já é solução.
No futebol, como na vida, não basta comprar talento. É preciso comprar contexto.








