Futebol é paixão, é identidade, é a voz do povo que ecoa nas arquibancadas. Mas, para além da bola no pé e dos gols, existe uma história profunda, uma raiz que nos conecta à ancestralidade e a uma luta que nunca cessa: a luta contra o racismo no futebol. Mas será que a herança ancestral por trás de cada drible, de cada defesa e em cada grito de “GOOOOL” é de conhecimento geral, mesmo nos dias de hoje?
É com essa pergunta que iniciaremos um mergulho nas raízes do futebol e em como até hoje o esporte que é o mais democrático do mundo, ainda carrega cicatrizes de um passado tortuoso de exclusão.
A Ferida Aberta: O Racismo no Futebol em Números e Fatos
Não adianta tapar o sol com a peneira. O racismo no futebol mundial não é uma lembrança distante: é uma realidade cruel que se agrava a cada ano. O Observatório da Discriminação Racial no Futebol, traz dados que nos fazem repensar como estamos lidando com a temática em nossas arquibancadas: em 2023, foram registrados 136 casos de racismo, um aumento de quase 40% em relação a 2022. Isso não é estatística fria, reflete uma realidade que é diariamente apagada. Outros dados apresentados são ainda mais alarmantes: 41% dos jogadores negros que atuam nos principais campeonatos do país já sofreram racismo. Se liga só, quase metade dos nossos craques já sentiu na pele a dor do preconceito. Isso é inaceitável!
A violência acontece dentro dos estádios (53,9% dos casos), nas redes sociais (31,4%), e até mesmo nos centros de treinamento. Não tem pra onde correr. A luta antirracista no futebol é urgente, é pra ontem.
A Força da Ancestralidade e a Fé que Desafia o Racismo: O Caso Paulinho
Nossos heróis de chuteira não são apenas craques: são guerreiros que carregam a ancestralidade e a fé como escudos. Não é raro nos depararmos com alguma manchete indicando algum ataque racista ao Vini Jr. na Europa, o que fez com que o jogador se tornasse símbolo global da luta antirracista no futebol. Mas a batalha não é só lá fora. No Brasil, um caso conhecido é o do jogador Paulinho, atacante do Palmeiras, que virou alvo de racismo religioso por expressar sua fé no Candomblé. Contudo, apesar dos reverses levantados pelos ataques, ele continua firme em defesa da livre expressão de sua religiosidade e se utiliza das redes sociais como uma ferramenta de conscientização sobre o tema. Não é incomum fotos ou vídeos de comemorações de gols onde o mesmo aparece reverenciando o orixá Oxóssi, simbolizado através do gesto de lançamento de uma flecha feito pelo craque.
Alguns de vocês podem estar se perguntando: “mas o que seria esse tal de racismo religioso?”. Nós do Portal Camisa12 estamos aqui pra dar uma esclarecida rápida no tema. Racismo religioso é uma faceta do preconceito ligado à demonização das expressões e símbolos das religiões de matrizes africanas. Hoje, sendo o Brasil um país onde o neopentecostalismo está em ascensão, não é raro nos depararmos com esta vertente do racismo que ataca diretamente as crenças religiosas.
O Grito da Arquibancada: Quando a Paixão Vira Luta Real
Se a gente quer ver a mudança, ela tem que vir de onde a paixão pulsa mais forte: da arquibancada. Não é só cantar o hino do time, é levantar a voz contra o racismo que insiste em se manifestar. A luta antirracista no futebol ganha força quando o torcedor se engaja, quando os coletivos de torcedores se organizam para combater a discriminação. A gente vê cada vez mais iniciativas de conscientização, de denúncia, de apoio às vítimas. É a torcida organizada, que muitas vezes é estigmatizada, mostrando que também é linha de frente nessa batalha.
O movimento Zumbi dos Palmeiras é um exemplo de como a luta pode se tornar uma ação coletiva organizada que muda a realidade da torcida dentro e fora de campo. Criado em 2023, eles unem a paixão alviverde e referenciam através do seu nome Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro e símbolo da consciência negra nacional, unindo a força da torcida com a luta antirracista. Eles se definem com um lema que é um verdadeiro soco no estômago: “Preto | Pobre | Periférico | Periculoso | Palmeirense”. São um coletivo que busca unir e fortalecer a identidade dos torcedores negros e periféricos do Palmeiras, mostrando que a representatividade e a resistência caminham juntas nas arquibancadas.
O Nosso Grito por um Futebol Sem Racismo: A Luta Continua!
Nós do Portal Camisa12, assumimos o compromisso de criar espaços de debate e conscientização sobre pautas das arquibancadas. Este é o primeiro de uma série de conteúdos pautados em movimentos sociais ligados às torcidas de norte a sul do Brasil e do mundo. A luta antirracista no futebol faz parte da nossa realidade, a nossa dor, a nossa esperança. Faz parte do compromisso editorial do portal ser uma janela, dentre tantas portas fechadas, que permita que cada vez mais os gritos das arquibancadas sejam ouvidos e validados. Porque o futebol é um palco poderoso, e a gente precisa usá-lo para construir um futuro onde o talento seja o único critério, onde a cor da pele seja apenas um detalhe na imensa tapeçaria da nossa humanidade.
Que a gente continue vibrando, torcendo, mas acima de tudo, lutando por um futebol que seja, de fato, para todos. Porque, no Portal Camisa12, acreditamos que o verdadeiro gol é a vitória da justiça social. E você, tá nessa com a gente? A bola tá com você!
FAQ’s
Existe alguma lei no Brasil contra o Racismo?
SIM! As Leis nº 7.716/89 e a Lei nº 14.532/2023. Elas definem os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor e a injúria racial como imprescritíveis e inafiançáveis.
Existe alguma lei antirracista dentro do mundo do futebol?
SIM! Com o intuito de coibir o racismo, a CBF estabeleceu sanções desportivas aplicáveis em torneios nacionais, que abrangem desde multas elevadas até a subtração de pontos. Adicionalmente, a FIFA implementou um novo Código Disciplinar com penalidades mais rigorosas, incluindo a decretação de derrota por W.O. para times com práticas racistas comprovadas. Vale lembrar também da Lei Vini Jr., que completa dois anos em julho de 2025, concebida para enfrentar o racismo em estádios e instalações desportivas.
O que é racismo religioso?
Racismo religioso é o preconceito que atinge as religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Este tipo de violência atinge diretamente a identidade e a ancestralidade do povo negro. É quando a fé de alguém é atacada, por causa da cor da pele e da origem. Uma tentativa de apagamento a cultura e a espiritualidade de um povo.
Qual a pena para crime de racismo dentro dos estádios?
A pena para o crime de racismo no Brasil, que inclui os casos dentro dos estádios, pode chegar a reclusão de dois a cinco anos, além de multa. E tem mais: a Lei Geral do Esporte (Lei 14.597/2023) prevê que o agressor pode ser proibido de frequentar locais destinados a práticas desportivas por até três anos. Se o crime for cometido em grupo, a pena pode ser aumentada.
Quais torcidas têm coletivos antirracistas no Brasil?
A consciência antirracista tem crescido nas arquibancadas! Além do Zumbi dos Palmeiras, que a gente já falou, outros coletivos e torcidas organizadas se destacam na luta antirracista no futebol brasileiro. Exemplos incluem: Frente Popular Alviverde (Palmeiras), Coxacomunas (Coritiba), Gralha Marx (Paraná), Atleticanhotxs (Athletico Paranaense), Grêmio Antifascista, Antifascistas do Grêmio, Coletivo Elis Vive e Tribuna 77 (Grêmio). Esses grupos promovem ações de conscientização, denunciam casos de racismo e pressionam por mudanças, mostrando que a arquibancada é também um espaço de luta e resistência.